Por que anoto coisas que nunca vou usar?

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Tenho blocos de notas que dariam um bom estudo antropológico. Metade das ideias eu nem lembro de onde vieram, e a outra metade eu jurei que seriam geniais e não são.

Anoto coisas o tempo todo. Não só ideias boas, que merecem ser salvas do esquecimento, mas também ideias aleatórias, suspeitas, quase constrangedoras. Anoto palavras bonitas, títulos de textos que talvez eu escreva, talvez não, frases que ouvi na rua, pensamentos, sentenças que parecem ter vindo de alguém mais inteligente que eu, mas que infelizmente saíram da minha cabeça mesmo.

E por que anoto? Ah, várias razões, mas acho que nenhuma delas realmente útil.

Primeiro, anoto porque me iludo. Toda vez que uma ideia aparece, mesmo que em forma embrionária, eu olho pra ela como quem olha pra um terreno baldio e pensa: “Dá pra construir uma mansão aqui.” A verdade é que na maioria das vezes mal daria pra montar uma barraca, mas ainda assim eu anoto.

Segundo, anoto porque tenho medo de esquecer, o que é engraçado, considerando que esqueço mesmo anotando. Às vezes abro o bloco de notas e encontro coisas como senhas que não lembro de onde são, listas de urgências, e por aí vai.

Obrigada, eu do passado ótimo material. O que exatamente eu queria fazer com isso? Não sei, provavelmente nada.

Também anoto por superstição criativa, porque parece que as boas ideias só aparecem quando você promete que não vai esquecer. 

Há quem diga que anotar é uma forma de organizar o caos mental, mas sejamos honestos: meus cadernos e blocos não organizam nada. Eles apenas espalham o caos em várias plataformas. Tenho anotações no celular, no Google Docs, em cadernos. Tenho textos começados às 3h da manhã que pareciam brilhantes na hora, mas hoje soam como alguém tentando filosofar com febre. Tenho arquivos nomeados como “usar um dia” que estão fazendo aniversário sem nenhuma festa.

Eu gosto disso tudo.

Gosto da sensação de ter um banco de ideias inacabadas. Gosto de pensar que em algum lugar entre o “não sei o que escrever hoje” e o “olha só essa frase perdida de 2022”, eu posso encontrar uma faísca. Ou não. Anotar é também uma forma de me ouvir, de perceber que certas ideias voltam.

E talvez, só talvez, porque um dia uma dessas anotações vai me salvar.

4 comentários:

  1. Olá, Kamila,
    me identifiquei demais com eu texto pois eu praticamente sou igual a você. Muitas anotações em vários cadernos que tempos depois vou ver e nem sei mas do que a ideia se tratava!
    Porém, melhor anotar, né? Vai que sai coisa boa de algumas das anotações...
    Gostei demais do seu texto.

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  2. eu sou totalmente o contrário, eu não anoto nada achando que vou lembrar e depois esqueço kkkk acho muito legal quem dá vida pros pensamentos assim, anotando, quem tem páginas e mais páginas preenchidas com coisas aleatórias, é quase um digital garden sem ser digital

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  3. Também tenho essas anotações no celular que não sei para que elas servem. O ideal seria anotar a ideia e já executá-la, para não perdermos o timing.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  4. O legal de anotar coisas aleatórias é termos a certeza de que somos "fora da caixinha" ao lermos essas aleatoriedades no futuro. Algo como: "o que raios eu quis dizer aqui? Por que eu anotei isso? Aliás, o que é isso?!". Rsrs

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